Entrevista a Lurdes Pinheiro da APPA - Associação do Património e População de Alfama

Entrevistador: Em que local nos encontramos?

Lurdes: Nós encontramo-nos na rua de São Miguel, que converge com o Largo de São Miguel, no local onde existiam casas municipais que a Câmara demoliu para fazer o museu judaico. E a APPA (Associação do Património e da População de Alfama) fez uma ação de luta para que a Câmara não construísse aqui o museu judaico, mas construísse, sim, habitação, tal como ela estava antes. E, por isso, nós estamos numa campanha de sensibilização junto da comunicação social e das pessoas, e até da própria Câmara, para a construção de casas aqui, neste largo. E eu também escolhi este local por isso mesmo.

E: E antigamente, o que era este sítio?

L: Este sítio era um prédio que fazia ligação a outros prédios do Largo - nós não estamos a ver daqui, mas é um largo muito bonito - e também é um sítio de muito convívio das pessoas. As pessoas do bairro antes, quando existiam aqui casas, vinham para as escadinhas da igreja de São Miguel conviver, conversar... Portanto, este espaço sempre foi um espaço de convívio da população do bairro, e foi esse outro dos motivos que entendemos dizer à Câmara: aqui, o museu judaico não, mas sim casas para se manter a tradição e se manter aquilo que era o bairro, porque o bairro está a ficar tão descaracterizado que o museu seria mais um elemento de descaracterização da arquitetura e não só - da convivência do bairro.

E: E sobre o futuro deste espaço, o que acha que, efetivamente, vai ser daqui uns tempos? E o que gostaria que fosse?

L: Eu espero que seja aquilo que eu gostaria que fosse, eu e as pessoas. Nós queremos, a população, as poucas pessoas que ainda moram no bairro, querem casas aqui. E é isso a nossa luta. Nós gostaríamos, e espero que a Câmara nos ouça, porque já disse que sim, que iam construir aqui casas. Podem construir aqui casas, podem, inclusive, fazer um jardim, mas têm que construir aqui casas e manter o Largo, tal como ele era antes! Porque este largo era um dos largos mais bonitos do bairro, e até se não for, o mais bonito de qualquer outro bairro, e portanto, era mantermos aqui a beleza deste Largo. É isso que eu gostaria e acho que a Câmara também vai fazer isso.

E: Então tem esperanças de que as reivindicações sejam ouvidas?

L: Se não tivesse esperança, não andávamos nesta luta todos os dias! Acho que sim. A gente tem é de ser persistente. Não é tão rápido como nós gostaríamos, porque isto já está assim desde… Aliás, nós já estamos nesta luta desde 2018. Mas há mais de 7 anos que já estava tudo a cair, por isso já está há demasiado anos assim. Agora limparam para o Santo António. O que vai ser aqui no Santo António? Vai ser uma casa de banho pública… Mas pronto, vamos continuar na luta, e só vamos parar quando se vir que estamos a construir as casas aqui, no Largo de São Miguel. E a ideia é que sejam construídas casas para que as pessoas possam vir para cá morar.