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Os riscos do excesso de turismo – o exemplo Algarvio e os avisos a Lisboa

Os Riscos do Excesso de Turismo – o exemplo Algarvio e os avisos a Lisboa

Em Dezembro passado, o Jornal Público lançou uma importante reportagem sobre as devastadoras assimetrias socioeconómicas no Algarve. Nesta região altamente turística, “rica” segundo várias estatísticas, a população, a maioria trabalhando nesse mesmo turismo, vive situações de miséria com baixos salários e dificuldades em aceder a uma habitação digna, factos que nos recordam cada vez mais o destino da Lisboa do turismo e da especulação imobiliária. O resultado das passadas eleições legislativas no Algarve, onde um partido de extrema-direita ganhou, com 27% dos votos, espelham o sentimento de abandono que aí se vive.

Apesar de ser a segunda região do país com o mais elevado Produto Interno Bruto (PIB) por habitante, um trabalhador no Algarve recebeu em 2020, menos 565 € que a média nacional [dados de 2022 do Plano de Desenvolvimento Social do Algarve (PDS) 2023-2030]. A taxa de privação material e social em 2021 era 24,5%, um valor superior aos já problemáticos 19,4% no resto do país (dados PDS). Isto numa região onde a maioria dos trabalhadores vivem do turismo – que é, de todas, a atividade económica onde os salários são os mais baixos (dados Pordata), – e numa região onde a taxa de desemprego é também superior à média nacional (dados PDS).

Além disso, a falta de casas para residentes no Algarve é gritante. De acordo com o artigo do Público, são precisos 10 mil fogos para alojar residentes, existindo porém no mercado 200 mil casas para alugar/vender a turistas. Isto é visível, por exemplo, pela taxa de sobrelotação de habitações de 13,5% – novamente a mais elevada em todo o país (dados de 2022 do PDS). 

Como afirmado pelo antropólogo Pedro Prista, citado pelo Público, “[o turismo] não pode assumir compromissos laborais de longa duração com a maior parte do seu pessoal.” Para além disso, como menciona o economista Brandão Pires  “[a] região gera riqueza mas uma boa parte não fica cá”, apontando o facto de serem grandes grupos, muitos deles estrangeiros, a dominar os sectores do turismo e do imobiliário no Algarve.

No Movimento Referendo pela Habitação (MRH) temos vindo a alertar para a falácia desta narrativa que vê o processo de turistificação das cidades como algo dogmaticamente positivo. O Algarve alerta-nos para os riscos de uma monocultura do turismo, onde as pessoas sofrem as consequências desta atividade, sem nenhum retorno. Por isso, não podemos aceitar com seriedade os elogios acríticos à “renovação” de Lisboa e à “importância do investimento estrangeiro”, enquanto vemos cada vez mais pessoas em situação de sem-abrigo, famílias despejadas ou que não conseguem pagar uma renda,  bairros vazios de moradores e de serviços, e lucros do turismo que teimam em chegar a quem mais precisa.

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